Por que eu não quero mais me chamar FernandaQuando eu era pequena, era legal me chamar Fernanda. Nas minhas turmas de colégio, sempre só tinha uma Fernanda, eu. Lembro que tinha muita Patrícia, era o nome mais comum. Duas, três por turma. Havia algumas Danieles e Danielas. Mas Fernanda era só eu.
Aí eu cresci, as Patrícias sumiram todas, foram todas pro Vale das Patrícias, e todas as Fernandas saíram dos becos e vieram parar perto de mim. Primeiro era uma só, que veio transferida de um outro prédio trabalhar no meu andar. Depois a coisa saiu do controle e hoje tem quatro Fernandas trabalhando em um andar que não tem nem 30 pessoas. Ou seja, quase 20% da população do local é composta por Fernandas.
Eu peço encarecidamente para me chamarem só de Rena no trabalho ou de Fernanda Rena, mas nem todo mundo entende a maldição das Fernandas e nem toda Fernanda pede isso, daí que recebo ligações de pessoas querendo falar com uma "Fernanda" que diversas vezes não sou eu e aí até explicar pro boneco que eu sou a Fernanda, mas não posso resolver o problema dele já se passaram 10 minutos na terra das horas longas.
Mas pior mesmo foi outro dia que entrou uma mulher na sala procurando pela Fernanda. Eu vi ela vindo, vindo, VINDO, passando por todas as baias procurando a Fernanda. Até que ela chegou na entrada da minha baia e disse: "Oi, você é a Fernanda?" Sou, né? Fazer o quê? E a moça:
- Fernanda, eu vim aqui fazer as alterações naquela publicação que eu disse por telefone que ia fazer.
OK, não sou eu.
- Não, olha, eu não falei com você no telefone, deve ser outra Fernand...
- É SIM! É SIM! Você não é a Fernanda? Então, eu falei com você no telefone, olha aqui, ó (abrindo os papéis dela), as alterações são essas...
Pânico crescendo no meu coração. A moça ia me passar o trabalho que não era meu e eu não fazia ideia do que era, porque eu era uma Fernanda!
Dominei o medo paralisante levantei e fui na Fernanda mais próxima pra perguntar se era com ela. Dei a sorte de ser e pude encaminhar a moça pra Fernanda certa. Claro que nesse processo eu perdi uma meia hora na terra das horas que não passam e alguns anos de vida, porque aquele infarto que eu ia ter aos 35 e agora vou ter aos 40 de repente vai chegar aos 37 só por causa do pavor que eu senti.
É por isso, amiguinhos, que um dia eu ainda vou mudar meu nome pra Gigliola. Porque aí, além de não ter erro, a pessoa vai perguntar o meu nome e eu vou responder "Gigliola". E a pessoa vai dizer: "QUÊ?" e eu vou responder "Gigliola" e a pessoa "Quê?" e eu vou responder: "Gigliola" e isso vai em looping até que ela vai desistir e pedir pra falar com alguma Fernanda. E vai ser assim.