As ném do Roberto
Há tempos eu queria ir a um show do Roberto Carlos, desde que ele se apresentou no Maracanã e eu fiquei vendo em casa e me perguntando por que eu não estava lá. Aí, quando anunciaram um show dele no Maracanãzinho, decidi que o presente perfeito pra mamis de Dia das Mães seria dar pra ela o ingresso e ainda ir junto. De quebra, ela resolveu presentear minha prima com um ingresso também e pronto, era um presente só ali, fomos as três pro show.
O problema é que, quando decidimos comprar, só tinha ingresso pra uma tal de arquibancada parcial. O tiozinho da bilheteria disse que dava pra ver bem, porque o palco é aberto, mas não acreditei muito nele, não. Quando entrei no Maracanãzinho, tomei um susto: achei que era muito atrás do palco, que ia ser bizarro, não íamos ver nada. Aí de repente eu percebi onde ele ia ficar e não acreditei. Era muito perto. Fato que quando descobrirem o que a tal da arquibancada parcial é melhor que muita cadeira de 500 reais, vão aumentar o preço. Sorte nossa que ainda não fizeram isso.
Além de ser muito perto do palco, a gente ainda tinha uma visão privilegiada das primeiras cadeiras, onde as (sub)celebridades ficam. Enquanto esperávamos começar, ficávamos brincando de adivinhar quem era quem, Luiza Brunet, Maurício Mattar, Adriana Bombom, Amin Khader (ao que tudo indica, ele realmente não morreu), Selton Mello. A gente identificava as pessoas e as ném atrás da gente começavam a gritar e mandar beijos.
Sim, porque na arquibancada de menor preço, né? O que mais tinha era ném. Uma nova categoria de ném, as ném coroas fãs do Roberto Carlos. Eu sabia que quando começasse o show elas iam cantar alto nos meus ouvidos (isso não tem como evitar). O problema é que, pior que isso, elas ficavam CONVERSANDO enquanto o homem cantava. Gente. Pra que vai ao show pra no meio da música ficar contando que fulano-de-tal-uma-vez-cantou-essa-música-do-roberto-quando... NÃO! Ouve a música! Que agonia, mãe! Fora que elas ficando cantando "delícia, delícia, assim você me mata" achando suuuuper engraçado a mesma piada em looping. Se já não foi engraçado da primeira vez, na décima era 100% vergonha alheia.
Teve uma hora que eu não me aguentei e virei pra trás pra perguntar se, assim, elas não gostavam do daquele moço que estava no palco. No segundo seguinte me arrependi, achei que as ném iam fazer ainda mais barulho pra me irritar. Mas sabem que não? Elas resmungaram, mas se acalmaram. Nessa hora eu acho que o mundo ainda tem salvação. Mas é por essas e outras que a pessoa compra uma televisão gigante e não quer mais sair de casa, minha gente. Porque hoje em dia ir a cinema ou show é exercício de paciência asiático-ZEN.
De qualquer forma, mesmo com as ném perturbando valeu a pena. O sujeito não é chamado de Rei à toa. O show dele é emocionante. É incrível ir a um show onde a gente conhece 100% das músicas e o artista se importa com a plateia (por vários momentos ele se virou pra nós, a pobrada da arquibancada parcial - nessa hora as ném piravam o cabeção). A voz dele continua a mesma ao longo dos anos: o velhinho canta, e canta do mesmo jeito. Enfim, virei fã, me rendi e tive vontade de seguir o Roberto e ficar indo em todos os shows. Antes que ele morra. Porque as pessoas andam com essa mania agora.
O cheiro do raloSemana passada, segunda-feira, eu no computador ni qui começo a sentir um cheiro esquisito. Parecia de gordura, alguém cozinhando em óleo velho. Achei estranho, porque moro aqui há quase seis anos e nunca senti cheiro de cozinha entrando pela janela, mas, enfim, tudo é possível. Deixei pra lá.
Só que aí veio a terça. E, com ela, cheiro ainda mais estranho: de lixo. Meti a cara na janela, já esperando ver o caminhão na rua o caminhão de lixo troll - aquele que faz tanto barulho que às vezes me acorda na madrugada -, mas não tinha nada. Fiquei ali, intrigada, convivendo com aquilo até a hora de dormir.
Então veio a quarta. E, como o cheiro não passava, liguei pros meus pais e fiquei debatendo com eles o que poderia ser. Várias ideias surgiram. Olhei a casa toda, com medo de que fosse alguma coisa aqui dentro. Mas o cheiro parecia vir de fora e, mais esquisito vinha com o vento, em ondas. Às vezes eu ficava mais de uma hora sem sentir nada e, de repente, ele vinha. Cheguei a sonhar naquela noite que mamis ia na minha casa me ajudar a decifrar o que era aquilo.
Quinta. O bicho estava pegando, véi. Eu praticamente me pendurei na janela do 12° andar olhando pra cima, pra baixo, pros lados, pra ver se via um pombo, um rato (ratos mortos que alguém me jogou de volta, em vingança pelos tantos que já taquei), um morcego, gente, uma criatura qualquer morta que justificasse aquilo. Desolada, olhei pro prédio em frente e tinha uma pessoa olhando com uma cara estranha. Quase gritei: "Vizinha do outro lado da rua, sente esse cheiro? Alguém?". Comecei a cogitar ir lá embaixo e avisar alguém da administração do meu prédio, mas eu achava que eles não iam poder fazer nada, que pudesse ser uma fonte de lixo nova. Achei que a minha rua estivesse desvalorizada pra sempre.
Sexta. Acordo superatrasada pro trabalho, pensando que teria que ficar pra de noite ir procurar o zelador pra relatar o caso bizarro, já que eu não tinha nem cinco minutos. Só que aí, quando fui sair de casa pelo outro lado do apartamento, o cheiro vinha de lá também. Decidi que a coisa tinha ficado séria e fui falar. O moço foi atencioso, mas, como ninguém mais tinha reclamado, ele fez uma certa poker face e disse que era pra eu observar se continuava nos próximos dias.
Naquele dia, Mamãe Joselita me liga no fim da tarde pra dizer que estava a caminho da minha casa, pra tentar me ajudar a identificar o cheiro. Fiquei aliviada, ela podia descobrir alguma coisa que eu não tava vendo, né? E eis que, uns quinze minutos depois, eu no ônibus, ela liga pro meu celular e diz:
- Fernanda, já descobri o que é o cheiro.
Gente. Sei que mãe faz bruxaria, mas descobrir em alguns minutos um negócio que me encucava havia dias e que eu tinha procurado feito uma desvairada era demais.
- Não é possível, mãe! O que é?
E ela:
- É uma mosca morta.
OI?
- Mosca? MOSCA? Não, mãe, uma mosca não pode dar aquele cheiro forte.
Eu já imaginando uma mosca pré-histórica criada a Sustagen com Biotônico Fontoura morta na minha casa. - Como assim uma mosca, mãe?
- Foi assim, filha: euchegueinoseuprédioeoporteiroperguntouseeu podialevarasuacorrespondênciaaípassouumamoçaloira
- Mãe. Mãe. Pula essa parte e me explica da mosca. -
O meu primeiro fio de cabelo branco que ia vir só aos 40 vai nascer aos 38 só por causa da ansiedade desse momento. Tu tu tu (~le ligação caindo)
NÃAAAAAAOOOO!
Olhei em desespero para Rato Morto, que é cheiroso, é só Rato Morto de mentirinha, e disse:
- Rato, minha mãe falou que o cheiro é de uma mosca!
Ao que Rato me olha com seus olhos de rato e sentencia:
- Então tem cadáver, Fernanda. Se tem mosca, tem cadáver.
Valei-me, que é o apocalipse zumbi começando pela minha casa e eu nem tenho uma espada ninja pra me defender!
Toca o telefone de novo e é a minha mãe.
- Mãe, pelo amor de Deus, começa pelo fim da história e me explica o que é o cheiro.
- Tá, filha, o cheiro é de um vizinho seu do 10º andar que está morto desde segunda-feira e só agora acharam o corpo, porque você reclamou do cheiro.
...
PROBLEM???
O que é mais bizarro nessa história? O cara ter morrido e ninguém procurado por ele? Só eu ter sentido aquele cheiro horrível por dias a fio? Ou a minha mãe ter começado a contar a história dizendo que era uma mosca? Bom, se bem que devia ter moscas lá no morto.
Eu, sinceramente, já vou providenciar um objeto comprido e cortante e uns enlatados pra estocar em casa, porque ELES estão chegando. Walking dead feelings.